segunda-feira, 16 de julho de 2018

Dogma 1: chá, cinema e boa conversa.





Ah! O tempo. Palavra recorrente em meu vocabulário nesses últimos meses. Aliás, hoje, precisamente completam-se seis meses desde a última postagem. Mas, atingidas as metas estipuladas para essa primeira parte do ano, vamos a um pequeno resumo de nossa aventura pelos clássicos da sétima arte. Lembrando que o objetivo desse blog é expor, muito brevemente, a experiência de um pequeno grupo de aficionados pelo universo mágico dos filmes, em especial, pelos clássicos que marcaram as gerações que nos precederam e que decidimos não deixar relegados ao frio esquecimento imposto pela modernidade.


Reunimo-nos para ver, rever, enfim, apreciar a riqueza dos primórdios dessa arte, que como sempre digo, é a síntese de todas as outras. Aprender com o cinema, pensar com o cinema, e assim, amar cada vez mais o cinema. Esse é nosso objetivo. Para isso, oportunamente escolhemos filmes que sejam para nós pertinentes em cada momento do ano, debatemos as ideias neles apresentadas, com o intuito de entender melhor como se desenvolveu historicamente a arte de fazer filmes, compreendendo mais sistematicamente como cada diretor foi contribuindo para estabelecer a linguagem, a estética e a narrativa que caracterizam essas imagens projetadas em movimento que tanto fascinam a humanidade há mais de 100 anos. 



É válido ressaltar, e é possível que eu já tenha feito isso em outras postagens, temos a esperança de que em várias partes do Brasil, cinéfilos ainda se reúnam como nós, para ver e debater filmes. Sejam clássicos ou recentemente produzidos, a experiência compartilhada com amigos diante de imagens que vão depois ser motivo de prazerosas conversas e algumas pequenas divergências deliciosamente discutidas, é insubstituível. Aprendemos melhor quando ouvimos o que o outro viu de diferente, as distintas percepções alimentam nossa sensibilidade, causa-nos um incômodo positivo, construtivo e enriquece nosso conhecimento. Além do mais, comungar da mesma paixão reforça o sentimento de persistência. E uso esse termo por saber, infelizmente, que poucos, muito poucos buscam esse deleite nos filmes mais antigos, que nem são tão antigos, pra falar a verdade. Mas, convenhamos, mencionar um filme de 1915 para um adolescente hoje parece tratar de algo paleolítico. São sintomas da aceleração do tempo. O passado está cada vez mais distante, até quase nem existir a percepção da presença dele entre as gerações mais novas. Mas há exceções, é claro. Sabemos que há jovens que se interessam por filmes antigos e até participam de pequenos cine clubes. Isso é ótimo! Nossa missão é, desta feita, incentivar os outros a fazer o mesmo. Reúnam-se com os amigos, vejam filmes, debatam, apreciem os clássicos maravilhosos que ajudaram a popularizar o cinema. Esse blog é também uma singela contribuição nesse sentido. Nossa pretensão é incentivar aqueles que leem essas linhas a replicar essa experiência. Bom, nesses últimos seis meses foi assim: 



Como havíamos planejado, a partir desse ano, decidimos dedicar um mês da nossa agenda ao estudo de um determinado movimento cinematográfico. Assim, começamos pelo Dogma 95, que consideramos de importância indiscutível na história recente da sétima arte. Excessivo para alguns, revolucionário para outros, a verdade é que, pondo-nos no necessário equilíbrio para analisar seus impactos, vemos que os cineastas que dele fizeram parte, em especial os dinamarqueses Thomas Vitenberg e Lars von Trier não propuseram nada de novo, muito pelo contrário, diziam que havia uma necessidade de voltar ao espírito do cinema primitivo, de contar uma história, de apresentar uma ideia, sem os excessos do CGI hollywoodiano. 



Como não é possível, devido aos compromisso de cada um, encontrarmo-nos várias vezes para assistirmos juntos a um rol grande de filmes que compunham os cerca de dez anos do movimento, escolhemos um que pensamos ser uma síntese das normas estabelecidas para as produções do Dogma, além do fato de estar completando vinte anos em 2018: Festen (ou Festa de família, no lançamento brasileiro). Sim, havia mesmo um conjunto de regras, uma espécie de dez mandamentos, e até um juramento no final, onde os diretores se comprometiam rigidamente a cumpri-los.

Mas, como dever de casa, cada um de nós se comprometeu a ver algum filme de Lars von Trier que não tivéssemos visto ainda. Eu escolhi Ondas do destino (1996), um desses filmes que a gente vai deixando para depois e acaba nunca vendo. Foi uma ótima oportunidade. Que filme! Digo que concorre seriamente com Melancolia (2011) como meu filme preferido do diretor. Mas ainda não vi todos. Pretendo ver mais alguns ainda esse ano. 




Esse foi o ano também de vermos finalmente dois filmes que estavam há muito tempo esperando sua vez na agenda. Talvez por serem muito longos, e certamente porque a concorrência é bem séria, Olímpia, dirigido por Leni Reifenstahl lançado há exatos 80 anos, e O nascimento de uma nação, filme divisor de águas na construção da narrativa cinematográfica, realizado por D. W. Griffth em 1915 foram dois momentos inesquecíveis do nosso Chá com cinema, onde mergulhamos mais fundo no passado do cinema, como havíamos feito com Nousferatu (1922). Aliás, outro filme que vimos e discutimos nesse semestre foi a refilmagem desse clássico, dirigido por Werner Herzog em 1979, estrelado por Klaus Kinski, mesma parceria do magnifico Aguirre, a cólera dos deuses (1972), que fez parte de nossa agenda alguns anos atrás. 





Pegando carona na temática histórica do filme Olímpia, forjado para ser uma propaganda da raça ariana, o filme documentário da olimpíada de 1936 em Berlim fez companhia a outro filme que compôs o universo da campanha de Gobbels contra os judeus, o famigerado O Judeu Süss, filme detestável, porém com valor histórico inegável. O filme é praticamente uma aula pronta sobre como historicamente o cinema foi usado como peça de divulgação ideológica de convencimento de massa. Mas o lado oposto, o comunismo soviético, também sabia, e como, produzir sua propaganda através do cinema, com aliás, já explicitei na postagem anterior. Decidimos que era hora também de vermos um filme do período stalinista, mas nesse caso glorificando a figura do grande líder da Revolução Bolchevique, Lenin. Três cantos para Lenin, dirigido por Dziga Vertov em 1934 é, assim como o judeu Süss, verdadeiro documento histórico, que não deve ser esquecido, ou subestimado. Devidamente problematizados, podem servir como instrumento para discussões muito produtivas, inclusive no ambiente escolar. 




Para que o texto não se alongue em demasia, quero mencionar uma novidade especial nesse último semestre. Meu companheiro de Chá com cinema, Rafa, inaugurou a sua sala de cinema. Então, a partir desse ano, estamos alternando a sede de nossas discussões. Inauguramos seu cinema (que ainda não tem nome, mas estamos providenciando), com o clássico faroeste O homem que matou o facínora (1962), dirigido por John Ford. Fez parte também de nosso cast este ano o filme do mestre Alfred Hitchcock, Correspondente estrangeiro (1940) e aproveitando a onda da nova versão para o clássico de Agatha Christie, vemos a versão de 1974, dirigida por Sidney Lumet do seu Assassinatos no Expresso do Oriente. Ufa, fechando a agenda, nada mais nada menos que … Laranja mecânica (1971). Com exceção de meu filho Davi, já tínhamos visto o filme (eu, várias vezes), mas, Kubrick merece ser revisitado incontáveis vezes. Sempre aprendemos mais, sempre vemos alguma coisa que mexe conosco. Um filme perfeito. Um diretor único. 





Esse foi um resumo dos nossos encontros. Não cabe aqui um relato dos nossos debates. Confesso que não tenho tanto tempo para escrever neste blog. Não pretendo aqui, como já foi mencionado anteriormente em outra postagem, fazer resenha dos filmes. Já temos um monte de sítios na internet com essa finalidade, e alguns são realmente ótimos. A ideia é propor essa experiência para outras pessoas. Quem sabe consigamos!
Prezados, por enquanto é só. Bons filmes. Divirtam-se e aprendam com eles!

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