Ah!
O tempo. Palavra recorrente em meu vocabulário nesses últimos
meses. Aliás, hoje, precisamente completam-se seis meses desde a
última postagem. Mas, atingidas as metas estipuladas para essa
primeira parte do ano, vamos a um pequeno resumo de nossa aventura
pelos clássicos da sétima arte. Lembrando que o objetivo desse blog
é expor, muito brevemente, a experiência de um pequeno grupo de
aficionados pelo universo mágico dos filmes, em especial, pelos
clássicos que marcaram as gerações que nos precederam e que
decidimos não deixar relegados ao frio esquecimento imposto pela
modernidade.
Reunimo-nos
para ver, rever, enfim, apreciar a riqueza dos primórdios dessa
arte, que como sempre digo, é a síntese de todas as outras. Aprender
com o cinema, pensar com o cinema, e assim, amar cada vez mais o
cinema. Esse é nosso objetivo. Para isso, oportunamente escolhemos
filmes que sejam para nós pertinentes em cada momento do ano,
debatemos as ideias neles apresentadas, com o intuito de entender
melhor como se desenvolveu historicamente a arte de fazer filmes,
compreendendo mais sistematicamente como cada diretor foi
contribuindo para estabelecer a linguagem, a estética e a narrativa
que caracterizam essas imagens projetadas em movimento que tanto
fascinam a humanidade há mais de 100 anos.
É
válido ressaltar, e é possível que eu já tenha feito isso em
outras postagens, temos a esperança de que em várias partes do
Brasil, cinéfilos ainda se reúnam como nós, para ver e debater
filmes. Sejam clássicos ou recentemente produzidos, a experiência
compartilhada com amigos diante de imagens que vão depois ser motivo
de prazerosas conversas e algumas pequenas divergências
deliciosamente discutidas, é insubstituível. Aprendemos melhor
quando ouvimos o que o outro viu de diferente, as distintas
percepções alimentam nossa sensibilidade, causa-nos um incômodo
positivo, construtivo e enriquece nosso conhecimento. Além do mais,
comungar da mesma paixão reforça o sentimento de persistência. E
uso esse termo por saber, infelizmente, que poucos, muito poucos
buscam esse deleite nos filmes mais antigos, que nem são tão
antigos, pra falar a verdade. Mas, convenhamos, mencionar um filme de
1915 para um adolescente hoje parece tratar de algo paleolítico.
São sintomas da aceleração do tempo. O passado está cada vez mais
distante, até quase nem existir a percepção da presença dele entre as gerações mais novas. Mas
há exceções, é claro. Sabemos que há jovens que se interessam
por filmes antigos e até participam de pequenos cine clubes. Isso é
ótimo! Nossa missão é, desta feita, incentivar os outros a fazer o
mesmo. Reúnam-se com os amigos, vejam filmes, debatam, apreciem os
clássicos maravilhosos que ajudaram a popularizar o cinema. Esse
blog é também uma singela contribuição nesse sentido. Nossa
pretensão é incentivar aqueles que leem essas linhas a replicar
essa experiência. Bom, nesses últimos seis meses foi assim:
Como
havíamos planejado, a partir desse ano, decidimos dedicar um mês da
nossa agenda ao estudo de um determinado movimento cinematográfico.
Assim, começamos pelo Dogma 95, que consideramos de importância
indiscutível na história recente da sétima arte. Excessivo para
alguns, revolucionário para outros, a verdade é que, pondo-nos no
necessário equilíbrio para analisar seus impactos, vemos que os
cineastas que dele fizeram parte, em especial os dinamarqueses Thomas
Vitenberg e Lars von Trier não propuseram nada de novo, muito pelo
contrário, diziam que havia uma necessidade de voltar ao espírito
do cinema primitivo, de contar uma história, de apresentar uma
ideia, sem os excessos do CGI hollywoodiano.
Como
não é possível, devido aos compromisso de cada um, encontrarmo-nos
várias vezes para assistirmos juntos a um rol grande de filmes que
compunham os cerca de dez anos do movimento, escolhemos um que
pensamos ser uma síntese das normas estabelecidas para as produções
do Dogma, além do fato de estar completando vinte anos em 2018:
Festen (ou Festa de família, no lançamento brasileiro). Sim, havia
mesmo um conjunto de regras, uma espécie de dez mandamentos, e até
um juramento no final, onde os diretores se comprometiam rigidamente
a cumpri-los.
Mas,
como dever de casa, cada um de nós se comprometeu a ver algum filme
de Lars von Trier que não tivéssemos visto ainda. Eu escolhi Ondas
do destino (1996), um desses filmes que a gente vai deixando para
depois e acaba nunca vendo. Foi uma ótima oportunidade. Que filme!
Digo que concorre seriamente com Melancolia (2011) como meu filme
preferido do diretor. Mas ainda não vi todos. Pretendo ver mais
alguns ainda esse ano.
Esse
foi o ano também de vermos finalmente dois filmes que estavam há
muito tempo esperando sua vez na agenda. Talvez por serem muito
longos, e certamente porque a concorrência é bem séria, Olímpia,
dirigido por Leni Reifenstahl lançado há exatos 80 anos, e O
nascimento de uma nação, filme divisor de águas na construção da
narrativa cinematográfica, realizado por D. W. Griffth em 1915 foram
dois momentos inesquecíveis do nosso Chá com cinema, onde
mergulhamos mais fundo no passado do cinema, como havíamos feito com
Nousferatu (1922). Aliás, outro filme que vimos e discutimos nesse
semestre foi a refilmagem desse clássico, dirigido por Werner Herzog
em 1979, estrelado por Klaus Kinski, mesma parceria do magnifico
Aguirre, a cólera dos deuses (1972), que fez parte de nossa agenda
alguns anos atrás.
Pegando
carona na temática histórica do filme Olímpia, forjado para ser
uma propaganda da raça ariana, o filme documentário da olimpíada
de 1936 em Berlim fez companhia a outro filme que compôs o universo
da campanha de Gobbels contra os judeus, o famigerado O Judeu Süss,
filme detestável, porém com valor histórico inegável. O filme é
praticamente uma aula pronta sobre como historicamente o cinema foi
usado como peça de divulgação ideológica de convencimento de
massa. Mas o lado oposto, o comunismo soviético, também sabia, e
como, produzir sua propaganda através do cinema, com aliás, já
explicitei na postagem anterior. Decidimos que era hora também de
vermos um filme do período stalinista, mas nesse caso glorificando a
figura do grande líder da Revolução Bolchevique, Lenin. Três
cantos para Lenin, dirigido por Dziga Vertov em 1934 é, assim como o
judeu Süss, verdadeiro documento histórico, que não deve ser
esquecido, ou subestimado. Devidamente problematizados, podem servir
como instrumento para discussões muito produtivas, inclusive no
ambiente escolar.
Para
que o texto não se alongue em demasia, quero mencionar uma novidade
especial nesse último semestre. Meu companheiro de Chá com cinema,
Rafa, inaugurou a sua sala de cinema. Então, a partir desse ano,
estamos alternando a sede de nossas discussões. Inauguramos seu
cinema (que ainda não tem nome, mas estamos providenciando), com o
clássico faroeste O homem que matou o facínora (1962), dirigido por
John Ford. Fez parte também de nosso cast este ano o filme do mestre
Alfred Hitchcock, Correspondente estrangeiro (1940) e aproveitando a
onda da nova versão para o clássico de Agatha Christie, vemos a
versão de 1974, dirigida por Sidney Lumet do seu Assassinatos no
Expresso do Oriente. Ufa, fechando a agenda, nada mais nada menos que
… Laranja mecânica (1971). Com exceção de meu filho Davi, já
tínhamos visto o filme (eu, várias vezes), mas, Kubrick merece ser
revisitado incontáveis vezes. Sempre aprendemos mais, sempre vemos
alguma coisa que mexe conosco. Um filme perfeito. Um diretor único.
Esse
foi um resumo dos nossos encontros. Não cabe aqui um relato dos
nossos debates. Confesso que não tenho tanto tempo para escrever
neste blog. Não pretendo aqui, como já foi mencionado anteriormente
em outra postagem, fazer resenha dos filmes. Já temos um monte de
sítios na internet com essa finalidade, e alguns são realmente
ótimos. A ideia é propor essa experiência para outras pessoas.
Quem sabe consigamos!
Prezados,
por enquanto é só. Bons filmes. Divirtam-se e aprendam com eles!
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