Ah!
O tempo. Palavra recorrente em meu vocabulário nesses últimos
meses. Aliás, hoje, precisamente completam-se seis meses desde a
última postagem. Mas, atingidas as metas estipuladas para essa
primeira parte do ano, vamos a um pequeno resumo de nossa aventura
pelos clássicos da sétima arte. Lembrando que o objetivo desse blog
é expor, muito brevemente, a experiência de um pequeno grupo de
aficionados pelo universo mágico dos filmes, em especial, pelos
clássicos que marcaram as gerações que nos precederam e que
decidimos não deixar relegados ao frio esquecimento imposto pela
modernidade.
segunda-feira, 16 de julho de 2018
segunda-feira, 29 de janeiro de 2018
A cinehistoriografia de Eisenstein
Muitas
pessoas não assistem a filmes “antigos” porque acham que em épocas mais remotas
as limitações técnicas impediam a realização de filmes atrativos (bem relativo
esse conceito é, diria Mestre Yoda) ou até mesmo compreensíveis. No entanto,
quem se aventura por esses mares cada vez menos navegados sabe que essa
percepção é não só equivocada como também anacrônica. Quem fazia um filme no
começo do século XX estava, na verdade, descortinando ao mundo novas
tecnologias e ao mesmo tempo, por serem pioneiros, estabelecendo a linguagem de
uma nova forma de arte, que em certa medida era ciência também. Dada a sua
complexidade o cinema era o resultado de uma evolução técnica no que se refere à
exposição em movimento de películas fotográficas e uma síntese de elementos de
outas formas de arte, estabelecendo ao longo do tempo uma gramática própria, um
amálgama que de se desenvolveu em torno da imagem de onde extraímos um
significado.
É
evidente que nós não podemos comparar aspectos de ordem técnica (resolução da
imagem, execução de efeitos especiais, qualidade de captação e mixagem de som)
entre filmes produzidos nas primeiras décadas da história do cinema com filmes
recentes, superproduções com orçamentos milionários. Entender as características,
o contexto social e, principalmente reconhecer as inovações, a própria
linguagem cinematográfica é condição sine
qua non para aproveitar a experiência de vermos esses filmes.
Em
2018 nos propomos a estudar filmes que sedimentaram as bases da cinematografia
mundial, e que cada um, a sua maneira e na sua época, exploraram o potencial
narrativo da sétima arte. De Eisenstein a Tarkovsky, de Fellini a Antonioni,
vamos percorrer ao longo desde ano que começa fascinantes trilhas cinematográficas guiados
por mestres que moldaram comportamentos e ajudaram a formar a mentalidade do
século XX.
Começamos
com a exibição de A greve de Serguei Eisenstein, belo exemplo de arte
engajada, o filme é um dos símbolos mais duradouros de uma obra que servia aos
propósitos da formação de uma consciência de classe, e em especial, do
despertar da massa para a sua potência transformadora, que, apesar de feito depois da revolução (o filme é de 1924) e direcionar a sua crítica ao ambiente
político do czarismo, o filme tinha potencial para despertar preocupação no
quadro da paranoia stalinista se tivesse sido lançado alguns anos mais tarde, já
que é uma metáfora da luta contra a injustiça e a opressão em qualquer situação
política.
Aliás, as construções
metafóricas são um verdadeiro desfile de referências visuais ao desprezo da
burguesia em relação ao proletariado urbano e aos camponeses. Esse ponto mostra
a importância do cinema enquanto catalisador dessas reflexões, posto que
somente em um filme o expectador pode ser levado a crítica dessas situações
perante uma reprodução do real a partir do poder da montagem de sequência imagéticas.
E
como a ideia é fazermos duas sessões por mês completamos a agenda com outra
obra seminal de Eisenstein, Alexandre Nevsky, que em 2018 completa 80 anos da
primeira exibição nos cinemas. Filme histórico que claramente
evoca o presente, esta película foi produzida no contexto da ameaça de uma
invasão germânica à União Soviética, coisa que acabou acontecendo com a quebra
do pacto Ribbentrop-Molotov, ou pacto germano-soviético como também é
conhecido.
O
filme conta a história da resistência russa a invasão teutônica em 1242,
destacando tanto a liderança do príncipe Alexander como a união (força da
coletividade como em A greve) dos camponeses claramente em um discurso de
alerta para os russos e um aviso aos possíveis invasores mostrando a capacidade de resistência desse este povo.
Claro
que analisando em conjunto, A greve e Alexander Nevsky, bem como Encouraçado
Potemkin e Outubro são filmes que se estabeleceram como marcos na história do
cinema. Eisenstein, a partir da construção inovadora de planos, montagem e
desenvolvimento narrativo, reverbera até hoje na sétima arte.
Vou
procurar na exposição dessa experiência não analisar cenas para não alongar em
demasia o texto, quero apenas finalizar lembrando mais uma vez que o cinema é
uma ferramenta de aprendizagem. Portanto, devemos buscar nos precursores dessa
arte a fonte de inspiração que alimentará nossa paixão pelo cinema.
Bons filmes!
Retrospectiva 2017 e além...
Nossa aventura em busca das
origens do cinema, estudando os clássicos que contribuíram para estabelecer a
linguagem do cinema continuou em 2017. Nossas reuniões de debate foram poucas,
mas produtivas. Não só as que fizemos depois das sessões, mas em outros
momentos em que conversamos sobre os filmes “antigos” que estávamos
conseguindo, garimpando em busca de tesouros que antes pareciam impossíveis.
Aliás, é nesse sentido que escrevo essas linhas.
Há
trinta anos, quando comecei ainda adolescente a “carreira” de cinéfilo - bem,
acho que quando você começa a ver novamente os filmes das videolocadoras porque
já não há mais inéditos; quando você começa a comprar aqueles guias de filmes
tipo 500 melhores filmes de todos os tempos, lendo as fichas técnicas, sinopses,
observando o nome dos atores que já conhecia; fazendo assinatura de revistas
sobre cinema; e principalmente, quando você começa a anotar os títulos de todos os filmes que
assiste (comecei a fazer isso em 1983), Ufa! Acho que você está se
transformando em um cinéfilo. Bem, como dizia, desde muito jovem senti-me
apaixonado pelo cinema e pelo que ele poderia me proporcionar enquanto
experiência cognitiva e sensitiva. Mesmo limitado pela falta de acesso a todos
os filmes que queria assistir.
Nessa
época era muito difícil conseguirmos ver os filmes clássicos e nem precisavam
ser tão antigos assim. Não havia streaming, TV a cabo ou DVDs, nenhuma mídia
digital que facilitasse o compartilhamento; e diga-se, em minha cidade a sala
de cinema deixou de ser opção devido ao desabamento da última que ainda
funciona durante a década de oitenta. Assistir a filmes tinha que ser na TV
aberta ou, como já citei, recorrendo as videolocadoras, que obviamente
abasteciam as prateleiras com filmes mais recentes, blockbusters, com maior
chace de serem locados. Eram raros os filmes de décadas mais remotas, exceção
feita a suprassumos que pertencem a cultura pop como O poderoso chefão, Era uma
vez no Oeste ou O exorcista.
Comecei
a ter acesso a filmes das primeiras décadas do cinema e também a filmes
produzidos fora da produção de mercado hollywoodiana com a TV Cultura, que com
programas como o Mostra de cinema
internacional, começou a me proporcionar a chace de ver filmes como a versão de
1939 de O corcunda de Notre Dame e O Encouraçado Potenkin, de Serguei
Einsentien (falarei mais desse ícone do cinema na próxima postagem).
Sendo
assim, havia um sério risco de nunca conseguir alguns filmes que lia tanto a
respeito. Com é óbvio para todos, a realidade agora é outra. Pode-se sair da
teoria e mergulhar na experiência de vermos praticamente a qualquer filme que
desejarmos. Nos últimos anos, também devido ao fato de termos criado esse grupo
de estudo que chamamos de Chá com cinema, tenho visto muitos desses filmes, não
só durante as sessões do Chá com cinema, mas isoladamente a partir de conversas
sobre o nosso amor pela sétima arte. É natural que ao vermos um filme clássico que
tenhamos gostado, pela referência cruzada procuremos ver os outros filmes do
mesmo diretor, atores e produtores ou até mesmo um que faça parte daquele
movimento cinematográfico.
Em
2017 vi vários desses filmes desejados há muito tempo. Vou citar aqui alguns
apenas, que emblematicamente representam filmes que sempre desejei ver e
consegui no ano passado. Desses, alguns são bem antigos, como Drácula (versão
de 1931), outros nem tanto, mas simbolizam todos eles essa busca para
recompensar o tempo perdido, ou para celebrar a oportunidade que agora tenho.
São eles:
Em
2018, nas sessões do Chá com cinema me imporei dois desafios: ver dois filmes a
cada mês que representam o cinema das primeiras décadas do século XX e
fazermos um estudo sobre as correntes e movimentos cinematográficos, em que,
uma vez por mês, vamos assistir a um filme que os representa artística e
ideologicamente. Começaremos com o movimento Dogma 95 e o filme Festen, de Thomas Vinterberg.
Bons
filmes!
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