Epifania. Do latim: epipháneia; intuição manifestada a partir de algo inesperado; revelação.
De onde vem o conhecimento? Quanto mais simples a pergunta, mas nos perturbamos em responder de maneira segura. A discussão entre a preponderância do sujeito ou do objeto no processo de aquisição de novos saberes percorre a raça humana desde que nossos companheiros de jornada se encontravam na ágora ateniense para travar seus embates filosóficos. Claro que a síntese óbvia seria a defesa da interação entre as duas partes, o que nos levaria a uma segunda conclusão: o entendimento humano varia de uma pessoa para outra devido as diferenças intelectuais e contextuais. Mas o que exatamente acontece quando aprendemos algo de valor para nós? Como podemos descrever essa sensação imersos numa miríade de novas informações nos bombardeando a todo instante? E quais os critérios para a definição de algo relevante?
Partindo do princícpio de que valorizo aquilo que minha inteligência sensível me aproxima, digo que gosto daquilo que me deixa satisfeito. No entanto, a simples sensação de saciedade dos instintos não seria suficiente para nos tornar humanos, no sentido evolutivo do termo. Sabemos que a nossa mente nos condiciona a necessidade de aprender, e aprendendo nos tornamos mais aptos ao entendimento de nós mesmos. E como coletivamente, a humanidade reproduz esses estágios de evolução cognitiva?
Arte. Capacidade criadora do ser humano; representação concreta do real.
Aprendemos, evoluimos e registramos o processo. Para quê? Por quê? Pode-se inferir a ideia de que fazemos isso para nos regogizarmos dos nossos feitos, ou para deixar impresso na história a nossa passagem, fotografando um momento na temporalidade abstraída de seu sentido mais efêmero. Talvez seja isso tudo, mas… certamente o fazemos para pontuar uma necessária reflexão em torno do fazer, do pensar, do viver, do estar presente, e como num ciclo interminável, aprendermos a entender o que estamos fazendo. Quando vemos uma obra de arte, vemos também o que sentimos, como num mergulho por nossa incosciência planejada (por outros, talvez). E a sensação de descoberta não está atrelada necessariamente a um mapa de seu percurso, porque talvez não exista um exatamente. Quem sabe não estamos vendo a nós mesmos, mais do que tudo?
Cinema. Arte e técnica de fazer filmes; representação estética do real ou da imaginação.
Sempre vi um filme como uma espécie de síntese das outras artes, pois imagem, som e texto se misturam numa sala de projeção. Mas o cinema não é só essa mistura. Um filme, enquanto aparência de similaridade com o mundo real, é a arte mais distante disso, justamente porque nos aprisiona nessa aparente reprodução do mundo sensível. E, enquanto dominados nesse instante de simulacro, a vida nos é re-editada por novas percepções, enquadrando-nos na imagem que atentamente conduz o espectador a testar seus valores. Aprendemos enquanto assistimos a um filme, claro, mas também ensinamos a nós mesmos a diferença elementar entre a mentira e a ficção. Inventamos para nos dizer a verdade. Ou pelo menos fazer pensar sobre ela.
Aprendi muito assistindo a filmes. Acho que não poderia citar aqui todos aqueles que me provocaram a sensação de ter valido a pena dedicar parte do meu tempo a assisti-los, e a debate-los com amigos, pessoas que navegam juntos comigo nessa paixão pela arte cinematográfica. Então, faço aqui uma singela homenagem a algumas cenas que me marcaram profundamente. Aquelas cenas que nunca me saíram da mente, que voltei várias vezes a fita para rever, que revejo a cada instante que quero voltar a sentir aquela epifania.
Algumas cenas tem realmente esse poder, mas obviamente, talvez me diga algo que outras pessoas não sintam, talvez sintam por outros filmes, outras imagens. Isso é algo realmente pessoal. O que posso dizer, resumidamente, é que aprendi algo de valor com elas, e devo isso a seus realizadores, e ao cinema de uma maneira geral.
Três homens em conflito: esse é o clímax!!! Aquela cena para a qual o espectador é puxado desde o começo do filme e aí... você respira junto com os atores. Sergio Leone, muito obrigado!
Tempos modernos: onde termina a máquina e começa o homem?
Um sonho do liberdade: Red ouve Andy dizer que a vida se resume em duas coisas. Claro, não vou tirar a graça de quem não assistiu, mas uma coisa é certa, minha vida se divide em antes e depois de ver essa cena.
2001 Uma odisseia no espaço: milhares de anos da história humana resumidos em uma cena. Quer mais? Corte perfeito.
Amadeus: o que falar aqui? Filme da minha vida. Amo todas as cenas, mas a atuação de F Murray Abraham é uma aula!!!
Os caçadores da arca perdida: e aí Dr. Jones? Vamos destruir a História? Uma cena que deixa claro a reverência que nós temos pelo nosso passado, como algo que nos identifica com nós mesmos, enquanto humanidade, mesmo para quem nunca percebeu isso. Aqui foi o meu despertar nesse sentido. História e cinema, duas paixões.
Cinema Paradiso. Você gosta de cinema, é sensível? Melhor, você gosta muito de cinema e é muito sensível? Respire fundo antes dessa cena.
De volta para o futuro: obra-prima travestida de sessão da tarde. Filme genial, cada vez que assisto novamente, detenho-me a observar detalhes que não havia percebido. Essa cena em particular? Rock and Roll, é claro!
Platoon: a cena da morte de Elias. É assim que a gente fala. Foi um filme que eu precisa assistir na adolescência. Oliver Stone historiador é o nome de um artigo de Robert Rosenstone. Eu sei bem o que isso significa.
O piano: beleza que só o cinema, síntese de todas as artes é capaz de proporcionar: imagem e som... e garganta apertada. POESIA!
Central do Brasil: Pietà ao contrário. Quem cuida de quem? Amor que se forma e que se estende ao espectador. Sublime, inacreditavelmente sublime.
Planeta dos Macacos: fomos sós? É a terra? Não!!! Todos nós dizemos isso juntos com Charlton Heston.
Spartacus: aos 7 anos, madrugada de cinema especial da Rede Globo, aprendi três coisas: amar o cinema, a história e Stanley Kubrick.
O show de Truman: o céu é o limite!!! Mil reflexões por segundo. conclusão: ainda pensando à respeito. É por isso que arte é tão necessária.
E as cenas que o leitor prefere? Gostaria de debatê-las aqui no blog. Até a próxima, onde vou fazer a indicação de algumas leituras que ando fazendo sobre o cinema. Até lá!!!