segunda-feira, 16 de julho de 2018

Dogma 1: chá, cinema e boa conversa.





Ah! O tempo. Palavra recorrente em meu vocabulário nesses últimos meses. Aliás, hoje, precisamente completam-se seis meses desde a última postagem. Mas, atingidas as metas estipuladas para essa primeira parte do ano, vamos a um pequeno resumo de nossa aventura pelos clássicos da sétima arte. Lembrando que o objetivo desse blog é expor, muito brevemente, a experiência de um pequeno grupo de aficionados pelo universo mágico dos filmes, em especial, pelos clássicos que marcaram as gerações que nos precederam e que decidimos não deixar relegados ao frio esquecimento imposto pela modernidade.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

A cinehistoriografia de Eisenstein


Muitas pessoas não assistem a filmes “antigos” porque acham que em épocas mais remotas as limitações técnicas impediam a realização de filmes atrativos (bem relativo esse conceito é, diria Mestre Yoda) ou até mesmo compreensíveis. No entanto, quem se aventura por esses mares cada vez menos navegados sabe que essa percepção é não só equivocada como também anacrônica. Quem fazia um filme no começo do século XX estava, na verdade, descortinando ao mundo novas tecnologias e ao mesmo tempo, por serem pioneiros, estabelecendo a linguagem de uma nova forma de arte, que em certa medida era ciência também. Dada a sua complexidade o cinema era o resultado de uma evolução técnica no que se refere à exposição em movimento de películas fotográficas e uma síntese de elementos de outas formas de arte, estabelecendo ao longo do tempo uma gramática própria, um amálgama que de se desenvolveu em torno da imagem de onde extraímos um significado.
            É evidente que nós não podemos comparar aspectos de ordem técnica (resolução da imagem, execução de efeitos especiais, qualidade de captação e mixagem de som) entre filmes produzidos nas primeiras décadas da história do cinema com filmes recentes, superproduções com orçamentos milionários. Entender as características, o contexto social e, principalmente reconhecer as inovações, a própria linguagem cinematográfica é condição sine qua non para aproveitar a experiência de vermos esses filmes.
            Em 2018 nos propomos a estudar filmes que sedimentaram as bases da cinematografia mundial, e que cada um, a sua maneira e na sua época, exploraram o potencial narrativo da sétima arte. De Eisenstein a Tarkovsky, de Fellini a Antonioni, vamos percorrer ao longo desde ano que começa fascinantes trilhas cinematográficas guiados por mestres que moldaram comportamentos e ajudaram a formar a mentalidade do século XX.

            Começamos com a exibição de A greve de Serguei Eisenstein, belo exemplo de arte engajada, o filme é um dos símbolos mais duradouros de uma obra que servia aos propósitos da formação de uma consciência de classe, e em especial, do despertar da massa para a sua potência transformadora, que, apesar de feito depois da revolução (o filme é de 1924) e direcionar a sua crítica ao ambiente político do czarismo, o filme tinha potencial para despertar preocupação no quadro da paranoia stalinista se tivesse sido lançado alguns anos mais tarde, já que é uma metáfora da luta contra a injustiça e a opressão em qualquer situação política.
Aliás, as construções metafóricas são um verdadeiro desfile de referências visuais ao desprezo da burguesia em relação ao proletariado urbano e aos camponeses. Esse ponto mostra a importância do cinema enquanto catalisador dessas reflexões, posto que somente em um filme o expectador pode ser levado a crítica dessas situações perante uma reprodução do real a partir do poder da montagem de sequência imagéticas.



            E como a ideia é fazermos duas sessões por mês completamos a agenda com outra obra seminal de Eisenstein, Alexandre Nevsky, que em 2018 completa 80 anos da primeira exibição nos cinemas. Filme histórico que claramente evoca o presente, esta película foi produzida no contexto da ameaça de uma invasão germânica à União Soviética, coisa que acabou acontecendo com a quebra do pacto Ribbentrop-Molotov, ou pacto germano-soviético como também é conhecido.


            O filme conta a história da resistência russa a invasão teutônica em 1242, destacando tanto a liderança do príncipe Alexander como a união (força da coletividade como em A greve) dos camponeses claramente em um discurso de alerta para os russos e um aviso aos possíveis invasores mostrando a capacidade de resistência desse este povo.


            Claro que analisando em conjunto, A greve e Alexander Nevsky, bem como Encouraçado Potemkin e Outubro são filmes que se estabeleceram como marcos na história do cinema. Eisenstein, a partir da construção inovadora de planos, montagem e desenvolvimento narrativo, reverbera até hoje na sétima arte.
            Vou procurar na exposição dessa experiência não analisar cenas para não alongar em demasia o texto, quero apenas finalizar lembrando mais uma vez que o cinema é uma ferramenta de aprendizagem. Portanto, devemos buscar nos precursores dessa arte a fonte de inspiração que alimentará nossa paixão pelo cinema.   

Bons filmes!

Retrospectiva 2017 e além...


           Nossa aventura em busca das origens do cinema, estudando os clássicos que contribuíram para estabelecer a linguagem do cinema continuou em 2017. Nossas reuniões de debate foram poucas, mas produtivas. Não só as que fizemos depois das sessões, mas em outros momentos em que conversamos sobre os filmes “antigos” que estávamos conseguindo, garimpando em busca de tesouros que antes pareciam impossíveis. Aliás, é nesse sentido que escrevo essas linhas.
       Há trinta anos, quando comecei ainda adolescente a “carreira” de cinéfilo - bem, acho que quando você começa a ver novamente os filmes das videolocadoras porque já não há mais inéditos; quando você começa a comprar aqueles guias de filmes tipo 500 melhores filmes de todos os tempos, lendo as fichas técnicas, sinopses, observando o nome dos atores que já conhecia; fazendo assinatura de revistas sobre cinema; e principalmente, quando você começa  a anotar os títulos de todos os filmes que assiste (comecei a fazer isso em 1983), Ufa! Acho que você está se transformando em um cinéfilo. Bem, como dizia, desde muito jovem senti-me apaixonado pelo cinema e pelo que ele poderia me proporcionar enquanto experiência cognitiva e sensitiva. Mesmo limitado pela falta de acesso a todos os filmes que queria assistir. 
            Nessa época era muito difícil conseguirmos ver os filmes clássicos e nem precisavam ser tão antigos assim. Não havia streaming, TV a cabo ou DVDs, nenhuma mídia digital que facilitasse o compartilhamento; e diga-se, em minha cidade a sala de cinema deixou de ser opção devido ao desabamento da última que ainda funciona durante a década de oitenta. Assistir a filmes tinha que ser na TV aberta ou, como já citei, recorrendo as videolocadoras, que obviamente abasteciam as prateleiras com filmes mais recentes, blockbusters, com maior chace de serem locados. Eram raros os filmes de décadas mais remotas, exceção feita a suprassumos que pertencem a cultura pop como O poderoso chefão, Era uma vez no Oeste ou O exorcista.
            Comecei a ter acesso a filmes das primeiras décadas do cinema e também a filmes produzidos fora da produção de mercado hollywoodiana com a TV Cultura, que com programas como o Mostra de cinema internacional, começou a me proporcionar a chace de ver filmes como a versão de 1939 de O corcunda de Notre Dame e O Encouraçado Potenkin, de Serguei Einsentien (falarei mais desse ícone do cinema na próxima postagem).
            Sendo assim, havia um sério risco de nunca conseguir alguns filmes que lia tanto a respeito. Com é óbvio para todos, a realidade agora é outra. Pode-se sair da teoria e mergulhar na experiência de vermos praticamente a qualquer filme que desejarmos. Nos últimos anos, também devido ao fato de termos criado esse grupo de estudo que chamamos de Chá com cinema, tenho visto muitos desses filmes, não só durante as sessões do Chá com cinema, mas isoladamente a partir de conversas sobre o nosso amor pela sétima arte. É natural que ao vermos um filme clássico que tenhamos gostado, pela referência cruzada procuremos ver os outros filmes do mesmo diretor, atores e produtores ou até mesmo um que faça parte daquele movimento cinematográfico.
            Em 2017 vi vários desses filmes desejados há muito tempo. Vou citar aqui alguns apenas, que emblematicamente representam filmes que sempre desejei ver e consegui no ano passado. Desses, alguns são bem antigos, como Drácula (versão de 1931), outros nem tanto, mas simbolizam todos eles essa busca para recompensar o tempo perdido, ou para celebrar a oportunidade que agora tenho. São eles: 






            Em 2018, nas sessões do Chá com cinema me imporei dois desafios: ver dois filmes a cada mês que representam o cinema das primeiras décadas do século XX e fazermos um estudo sobre as correntes e movimentos cinematográficos, em que, uma vez por mês, vamos assistir a um filme que os representa artística e ideologicamente. Começaremos com o movimento Dogma 95 e o filme Festen, de Thomas Vinterberg.

            Bons filmes! 

sábado, 20 de maio de 2017

Uma odisseia pelo cinema


Ao criarmos o nosso pequeno cine clube, meio que acordamos que os filmes assistidos seriam inéditos para todos. Talvez para que estivéssemos em um mesmo ponto de partida quando fôssemos debate-los sem uma experiência anterior que pudesse “corromper” nossa imersão naquele universo. Ou simplesmente porque assim fugiríamos da óbvia tentação de reexperimentarmos aquilo que já nos agradou, e sobre o qual já tínhamos elaborado alguma opinião. Lançamo-nos ao desafio de escolher sempre filmes que tínhamos uma imensa vontade de ver ao longo de nossa trajetória na estrada da cinefilia, mas por algum motivo, geralmente falta de acesso a obra, não havíamos conseguido assistir. 

Porém, como são oportunas as exceções, fugimos pela tangente em algumas situações especiais. Muito especiais. Há dois anos realizamos uma sessão comemorando os 30 anos do lançamento de Amadeus nos cinemas brasileiros. Aliás, acabei não fazendo essa postagem. Mas foi muito legal. Meu filme preferido, diga-se de passagem.




Desta feita, já dentro das comemorações dos 50 anos de uma das grandes obras-primas da sétima arte, realizamos uma sessão de 2001 Uma odisseia no espaço, criada pela mente brilhante de Stanley Kubrick. Claro, apenas em 29 de abril de 2018 o filme estará oficialmente completando suas cinco décadas, mas resolvemos ser os primeiros a comemorar. Por que não? No ano que vem, veremos novamente. Quem sabe um dia a gente não entende? Brincadeira, já tinha conseguido entender na terceira vez, essa foi a sexta.

Mas por que ver esse filme mais uma vez?
Por que, de certa maneira, é sempre a primeira. Grandes obras de arte tem sempre algo a nos ensinar quando nos deparamos com elas, não importa quantas vezes façamos isso. É como se a nossa própria evolução enquanto ser pensante nos recondicionasse a novas percepções, e o aparelhamento cognitivo se expandisse rumo a novos horizontes. Vermos 2001 Uma odisseia no espaço como um objeto de conhecimento nos obriga a repensar continuamente nossa condição diante do inatingível, e ao mesmo tempo refletir sobre como lidamos com a nossa busca pela solução dos mistérios do mundo, seja ele em outras galáxias ou dentro de nós mesmos.

Bom, não vou aqui fazer uma resenha do filme, pois quem já leu o blog sabe que não é este o objetivo desses textos. Quero só compartilhar com meus colegas cinéfilos esse imenso prazer de usufruirmos dessas maravilhas da cinematografia. E, como sempre digo, tentar estimula-los a realizar experiências como essa. O cinema é uma grande oportunidade de discutirmos ideias, aprendemos acima de tudo. Estamos cada vez mais mergulhados numa sociedade formada por pessoas sem foco, sem capacidade de concentração, distraídos, coisificados e superficializados por ferramentas que se afirma facilitarem a nossa vida, quando na verdade sugam a nossa disposição para o exercício do pensamento e da reflexão. Muitos já nem suportam mais estar diante de algo que dure mais de 10 minutos. Uma pena.







Ao final da exibição tivemos o nosso tradicional debate, ouvindo a trilha sonora do filme ao fundo e tomando o nosso chá gelado. Conversamos durante uma hora sobre os aspectos essenciais da película e traçamos alguns comparativos entre e o livro e ela, já que Davi e eu havíamos lido a obra de Artur C. Clark, que, aliás, foi escrita concomitantemente ao filme.






Como de costume, essa nossa reflexão coletiva foi regada ao maravilho chá gelado, desta vez com folhas de laranja, limão e cubos de gelo.





Quero mencionar também que acabei de adquirir mais duas obras que irão certamente contribuir em um maior embasamento para as nossas discussões futuras.




Aliás, estou pensando em um futuro próximo fazer uma postagem sobre alguns livros sobre cinema que gostaria de recomendar. Vale muito a pena conhecer um pouco mais sobre o cinema, envolvendo produção, história, etc., pois isso realmente contribui para experimentarmos mais a fundo a obra.

Quando estava terminando o texto da postagem os correios entregaram duas obras que eu tinha encomendado para a audição após o filme no momento do debate. Não deu tempo chegar, mas serão ouvidas, muitas e muitas vezes. 




É isso. Até a próxima e bons filmes!

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Amigos, Chá e Cinema: estamos de volta!




O nosso grupo de estudo e apreciação do cinema clássico surgiu da imensa vontade de reunir os amigos que compartilham uma visão do cinema enquanto arte, entretenimento e, essencialmente, fonte de aprendizagem e reflexão. Nosso objetivo era tentar nos aprofundar na recepção de algumas obras, indo um pouco além da mera passividade diante da película, investigando o filme enquanto objeto de conhecimento. Sendo assim, fizemos uma seleção de obras clássicas, algumas mais remotas, outras nem tanto, mas que tenha, cada uma a sua maneira, causado um impacto na história da cinematografia.

Como pode ser conferido pela datação das postagens, passei um tempo sem publicar textos devido a paralisação das atividades do grupo. Reunimo-nos aos sábados à noite durante um ano e meio ininterruptamente, mas quando justamente criamos o blog, as atividades foram interrompidas por compromissos profissionais e pessoais que nos impossibilitaram de seguir com os encontros e discussões. Mas é claro, não paramos de assistir a filmes e ler sobre o assunto. Apesar de algumas tentativas frustradas de retomar o grupo, em outubro de 2016 finalmente conseguimos. Ufa!

Bem, por que o blog? Achamos que com a divulgação dessa prazerosa experiência, possamos despertar o interesse de outros cinéfilos a tentar fazer algo parecido. Posso garantir que vale muito a pena.

Pessoal, continuo o texto um pouco mais abaixo. Antes vejam os filmes que vimos recentemente: 




Observem a variedade de gêneros e temas. Porém, todos maravilhosos. Além disso, proporcionaram ótimos debates. Por falar nisso, explicarei brevemente como funcionam os encontros:

Eles acontecem uma vez por mês. Fizemos assim para que não nos sintamos pressionados, já que às vezes a agenda de trabalho não permite nossos encontros a cada semana. Também acaba servindo para dar aquele sabor a mais, pela raridade dos momentos. Mas antes desse encontro, cumprimos algumas etapas de preparação. É verdade que cada um de nós assiste a vários filmes nesse intervalo, mas procuramos fazer desse encontro uma experiência diferenciada, onde aproveitamos o máximo que o filme pode nos proporcionar, já que é também um momento de estudo da obra, mas também de deleite.

Bem, essa “preparação” consiste basicamente na leitura de alguns textos que, como coordenador do grupo, eu disponibilizo na página do Chá com cinema no Facebook. Juntos ao link dos artigos, acrescento trailer original do filme, sinopses e opiniões de críticos consagrados, além da leitura de alguns guias de cinema que abordam o filme. Feitas essas leituras, marcamos a data da exibição.

 No dia em que nos encontramos para assistirmos juntos ao filme, combinamos não tratar antecipadamente de nossas expetativas, já que em sua grande maioria, os filmes que selecionamos nunca foram assistidos por nenhum membro do grupo. São filmes que sempre desejamos ver, mas que agora com a facilidade de acesso, podemos realizar esse desejo. Após o filme, embasados também nas leituras anteriores, e em pequenas anotações que fazemos durante a projeção, fazemos um saboroso debate sobre a obra.

Durante o último debate, em que falamos sobre o filme Cabaret, passamos a fazer a gravação de nossos opiniões como forma de registro, e quem sabe um dia dou um jeito de disponibilizar aqui. Vamos também introduzir um novo fetiche para os próximos encontros: usar a trilha sonora do filme como fundo musical para os debates. São ideias que vão surgindo. Nesse caso, porque adoramos música, e especial as trilhas instrumentais dos filmes.


 Já expliquei numa postagem anterior, mas para os novos leitores do blog, o título Chá com cinema foi criação do colega Valdir Estrela, pelo fato de regarmos as nossas sessões com deliciosos chás feitos pela minha esposa Sandra. Aliás, fico devendo a receita dos chás para as próximas postagens.

Sinceramente, chequei a pensar que uma das mais gratificantes aventuras nas quais embarquei havia chegado ao fim. Nosso pequeno Cine clube começou a todo vapor, mas por continência dos destinos individuais de cada um dos membros, teve que ser interrompido. Mas felizmente, estamos de volta e imaginem, com muito mais vontade, acumulada nesse tempo de intervalo. Com imenso desejo de estudar e também, divertir-se com os clássicos do cinema antigo, ou como diria a crítica Pauline Kael, com os filmes que ainda não vimos.

O nosso retorno aconteceu precisamente no dia 04 de outubro, quando reinauguramos o Chá com cinema com o filme Drugstore Cowboy, do diretor americano Gus Van Saint, produzido em 1989 e imerso naquele universo que foi classificado como cultura indie. Por que esse filme em particular? Não quisemos escolher nada que tivesse um caráter excepcional por se tratar de um retorno as atividades do projeto. Ele simplesmente estava na lista há muito tempo e tínhamos muita curiosidade sobre a obra, posto que eu particularmente adorei Elefante, filme dirigido por Saint em 2001 e que me chamou a atenção para o “estilo” do diretor.

A partir daí fomos escolhendo os próximos filmes e alguns títulos foram se impondo por algumas circunstâncias bem específicas, como o último que vimos Cabaret, que lembramos pela sucesso recente de La la land. Então pensamos em outro musical, que também teve muitas indicações ao Oscar e ainda não tínhamos visto. Bem, o certo é que não faltam filmes pra ver. Deus nos dê muitos anos de vida para aproveitamos o grande acervo de obras-primas que cineastas geniais nos legaram. Amém!

Bons filmes! 

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Arte, cinema e epifania

Epifania. Do latim: epipháneia; intuição manifestada a partir de algo inesperado; revelação.
De onde vem o conhecimento? Quanto mais simples a pergunta, mas nos perturbamos em responder de maneira segura. A discussão entre a preponderância do sujeito ou do objeto no processo de aquisição de novos saberes percorre a raça humana desde que nossos companheiros de jornada se encontravam na ágora ateniense para travar seus embates filosóficos. Claro que a síntese óbvia seria a defesa da interação entre as duas partes, o que nos levaria a uma segunda conclusão: o entendimento humano varia de uma pessoa para outra devido as diferenças intelectuais e contextuais. Mas o que exatamente acontece quando aprendemos algo de valor para nós? Como podemos descrever essa sensação imersos numa miríade de novas informações nos bombardeando a todo instante? E quais os critérios para a definição de algo relevante?
Partindo do princícpio de que valorizo aquilo que minha inteligência sensível me aproxima, digo que gosto daquilo que me deixa satisfeito. No entanto, a simples sensação de saciedade dos instintos não seria suficiente para nos tornar humanos, no sentido evolutivo do termo. Sabemos que a nossa mente nos condiciona a necessidade de aprender, e aprendendo nos tornamos mais aptos ao entendimento de nós mesmos. E como coletivamente, a humanidade reproduz esses estágios de evolução cognitiva?
Arte. Capacidade criadora do ser humano; representação concreta do real.
Aprendemos, evoluimos e registramos o processo. Para quê? Por quê? Pode-se inferir a ideia de que fazemos isso para nos regogizarmos dos nossos feitos, ou para deixar impresso na história a nossa passagem, fotografando um momento na temporalidade abstraída de seu sentido mais efêmero. Talvez seja isso tudo, mas… certamente o fazemos para pontuar uma necessária reflexão em torno do fazer, do pensar, do viver, do estar presente, e como num ciclo interminável, aprendermos a entender o que estamos fazendo. Quando vemos uma obra de arte, vemos também o que sentimos, como num mergulho por nossa incosciência planejada (por outros, talvez). E a sensação de descoberta não está atrelada necessariamente a um mapa de seu percurso, porque talvez não exista um exatamente. Quem sabe não estamos vendo a nós mesmos, mais do que tudo?
Cinema. Arte e técnica de fazer filmes; representação estética do real ou da imaginação.
Sempre vi um filme como uma espécie de síntese das outras artes, pois imagem, som e texto se misturam numa sala de projeção. Mas o cinema não é só essa mistura. Um filme, enquanto aparência de similaridade com o mundo real, é a arte mais distante disso, justamente porque nos aprisiona nessa aparente reprodução do mundo sensível. E, enquanto dominados nesse instante de simulacro, a vida nos é re-editada por novas percepções, enquadrando-nos na imagem que atentamente conduz o espectador a testar seus valores. Aprendemos enquanto assistimos a um filme, claro, mas também ensinamos a nós mesmos a diferença elementar entre a mentira e a ficção. Inventamos para nos dizer a verdade. Ou pelo menos fazer pensar sobre ela.
Aprendi muito assistindo a filmes. Acho que não poderia citar aqui todos aqueles que me provocaram a sensação de ter valido a pena dedicar parte do meu tempo a assisti-los, e a debate-los com amigos, pessoas que navegam juntos comigo nessa paixão pela arte cinematográfica. Então, faço aqui uma singela homenagem a algumas cenas que me marcaram profundamente. Aquelas cenas que nunca me saíram da mente, que voltei várias vezes a fita para rever, que revejo a cada instante que quero voltar a sentir aquela epifania.
Algumas cenas tem realmente esse poder, mas obviamente, talvez me diga algo que outras pessoas não sintam, talvez sintam por outros filmes, outras imagens. Isso é algo realmente pessoal. O que posso dizer, resumidamente, é que aprendi algo de valor com elas, e devo isso a seus realizadores, e ao cinema de uma maneira geral.
3 homens cena do cemitério
Três homens em conflito: esse é o clímax!!! Aquela cena para a qual o espectador é puxado desde o começo do filme e aí... você respira junto com os atores. Sergio Leone, muito obrigado!
tempos modernos
Tempos modernos: onde termina a máquina e começa o homem?
155-Um Sonho de Liberdade
Um sonho do liberdade: Red ouve Andy dizer que a vida se resume em duas coisas. Claro, não vou tirar a graça de quem não assistiu, mas uma coisa é certa, minha vida se divide em antes e depois de ver essa cena.
2001
2001 Uma odisseia no espaço: milhares de anos da história humana resumidos em uma cena. Quer mais? Corte perfeito.
Amadeus
Amadeus: o que falar aqui? Filme da minha vida. Amo todas as cenas, mas a atuação de F Murray Abraham é uma aula!!!
caçadores da arca perdida
Os caçadores da arca perdida: e aí Dr. Jones? Vamos destruir a História? Uma cena que deixa claro a reverência que nós temos pelo nosso passado, como algo que nos identifica com nós mesmos, enquanto humanidade, mesmo para quem nunca percebeu isso. Aqui foi o meu despertar nesse sentido. História e cinema, duas paixões.
cinema paradiso
Cinema Paradiso. Você gosta de cinema, é sensível? Melhor, você gosta muito de cinema e é muito sensível? Respire fundo antes dessa cena.
de volta para o futuro
De volta para o futuro: obra-prima travestida de sessão da tarde. Filme genial, cada vez que assisto novamente, detenho-me a observar detalhes que não havia percebido. Essa cena em particular? Rock and Roll, é claro!
morte de Elias
Platoon: a cena da morte de Elias. É assim que a gente fala. Foi um filme que eu precisa assistir na adolescência. Oliver Stone historiador é o nome de um artigo de Robert Rosenstone. Eu sei bem o que isso significa.
o piano cena da praia
O piano: beleza que só o cinema, síntese de todas as artes é capaz de proporcionar: imagem e som... e garganta apertada. POESIA!
Pietá ao contrário central do brasil
Central do Brasil: Pietà ao contrário. Quem cuida de quem? Amor que se forma e que se estende ao espectador. Sublime, inacreditavelmente sublime.
planeta dos macacos
Planeta dos Macacos: fomos sós? É a terra? Não!!! Todos nós dizemos isso juntos com Charlton Heston.
Spartacus
Spartacus: aos 7 anos, madrugada de cinema especial da Rede Globo, aprendi três coisas: amar o cinema, a história e Stanley Kubrick.
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O show de Truman: o céu é o limite!!! Mil reflexões por segundo. conclusão: ainda pensando à respeito. É por isso que arte é tão necessária.
E as cenas que o leitor prefere? Gostaria de debatê-las aqui no blog. Até a próxima, onde vou fazer a indicação de algumas leituras que ando fazendo sobre o cinema. Até lá!!!




































sábado, 2 de agosto de 2014

A locomotiva de volta aos trilhos

 

British actor Charlie Chaplin (1889 - 1977) and American actor Jackie Coogan (1914 - 1984) stand on a pavement by a lamp post in a still from the film 'The Kid', directed by Chaplin himself, 1921. (Photo by Chaplin- First National/Courtesy of Getty Images)

Logo que inauguramos o blog, para que pudéssemos compartilhar com os amantes da sétima arte espalhados pelo mundo o nosso amor pelos filmes clássicos, iniciei a reforma de minha casa, e claro, a sala em que reuníamos o grupo de estudo ficou desativada. Dedicamos esse tempo a prepararmos nosso espírito, e enquanto duravam as obras, lemos, tentamos garimpar filmes raros e, evidentemente, ficamos ainda mais ansiosos pelo retorno das nossas atividades.

Esse tempo sabático valeu a pena, e o grupo de estudo que chamamos carinhosamente de Chá com cinema está voltando. E assim, vamos aos poucos compartilhando com os leitores desse blog as sensações que tivemos ao assistirmos as maravilhosas produções que selecionamos. Pois é esse nosso objetivo: que essa experiência que iniciamos, sirva de inspiração a cinéfilos que se interessam pela história desse veículo de comunicação de ideias, de produção de conhecimento e despertar da imaginação, que é o cinema.

Vamos tentar criar um ambiente de debate aqui. Espero que outros que não estarão fisicamente conosco, possam através dessa ferramenta, também viver essa experiência. Pensar o cinema, deliciando-se com a obra de gênios que legaram a humanidade um tesouro incalculável, que é a opornidade, através da arte, de identificar-se com sua trajetória e refletir culturalmente sobre sua história.

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Fizemos uma seleção de obras bem variadas. De comédias do cinema mudo a westers de Sergio Leone; de dramas coppolianos a ficção de Ridley Scott; de terror juvenil dos jasons, kruegers e cia ao experimentalismo de Bunuel. Bem, cinema de boa qualidade, seja para matar a saudade dos sustos (que sabemos que não vamos mais sentir) de sexta-feira 13 ou para nos abstrairmos filosoficamente com O cão Andaluz.

montagem 3

montagem I

Olhar para trás é fundamental para fugirmos do presentismo sempre perigoso. Não somos saudosistas (o que é outro radicalismo prejucial), gostamos do cinema atual, e assistimos as realizações recentes do cinema mundial. Aliás, cada vez mais mundial, visto que produções de países cada vez mais variados ganham espaço não só entre os cinéfilos. E, sem sombra de dúvida, a internet procicia aos amantes do cinema uma oportunidade incrível de saborear esse cárdapio tão farto.

Nosso sonho é conseguirmos montar um cineclube. Quem sabe um dia. Enquanto isso Almodóvar, Bertolucci, Chaplin, Buster Keaton e tantos outros nos esperam.

montagem II

Na próxima postagem, vou fazer uma pequena homenagem as cenas que me marcaram. Aquelas em que derramei lágrimas verdadeiramente, pois me fizeram amar ainda mais o cinema. Até a próxima.

o garorto