segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

A cinehistoriografia de Eisenstein


Muitas pessoas não assistem a filmes “antigos” porque acham que em épocas mais remotas as limitações técnicas impediam a realização de filmes atrativos (bem relativo esse conceito é, diria Mestre Yoda) ou até mesmo compreensíveis. No entanto, quem se aventura por esses mares cada vez menos navegados sabe que essa percepção é não só equivocada como também anacrônica. Quem fazia um filme no começo do século XX estava, na verdade, descortinando ao mundo novas tecnologias e ao mesmo tempo, por serem pioneiros, estabelecendo a linguagem de uma nova forma de arte, que em certa medida era ciência também. Dada a sua complexidade o cinema era o resultado de uma evolução técnica no que se refere à exposição em movimento de películas fotográficas e uma síntese de elementos de outas formas de arte, estabelecendo ao longo do tempo uma gramática própria, um amálgama que de se desenvolveu em torno da imagem de onde extraímos um significado.
            É evidente que nós não podemos comparar aspectos de ordem técnica (resolução da imagem, execução de efeitos especiais, qualidade de captação e mixagem de som) entre filmes produzidos nas primeiras décadas da história do cinema com filmes recentes, superproduções com orçamentos milionários. Entender as características, o contexto social e, principalmente reconhecer as inovações, a própria linguagem cinematográfica é condição sine qua non para aproveitar a experiência de vermos esses filmes.
            Em 2018 nos propomos a estudar filmes que sedimentaram as bases da cinematografia mundial, e que cada um, a sua maneira e na sua época, exploraram o potencial narrativo da sétima arte. De Eisenstein a Tarkovsky, de Fellini a Antonioni, vamos percorrer ao longo desde ano que começa fascinantes trilhas cinematográficas guiados por mestres que moldaram comportamentos e ajudaram a formar a mentalidade do século XX.

            Começamos com a exibição de A greve de Serguei Eisenstein, belo exemplo de arte engajada, o filme é um dos símbolos mais duradouros de uma obra que servia aos propósitos da formação de uma consciência de classe, e em especial, do despertar da massa para a sua potência transformadora, que, apesar de feito depois da revolução (o filme é de 1924) e direcionar a sua crítica ao ambiente político do czarismo, o filme tinha potencial para despertar preocupação no quadro da paranoia stalinista se tivesse sido lançado alguns anos mais tarde, já que é uma metáfora da luta contra a injustiça e a opressão em qualquer situação política.
Aliás, as construções metafóricas são um verdadeiro desfile de referências visuais ao desprezo da burguesia em relação ao proletariado urbano e aos camponeses. Esse ponto mostra a importância do cinema enquanto catalisador dessas reflexões, posto que somente em um filme o expectador pode ser levado a crítica dessas situações perante uma reprodução do real a partir do poder da montagem de sequência imagéticas.



            E como a ideia é fazermos duas sessões por mês completamos a agenda com outra obra seminal de Eisenstein, Alexandre Nevsky, que em 2018 completa 80 anos da primeira exibição nos cinemas. Filme histórico que claramente evoca o presente, esta película foi produzida no contexto da ameaça de uma invasão germânica à União Soviética, coisa que acabou acontecendo com a quebra do pacto Ribbentrop-Molotov, ou pacto germano-soviético como também é conhecido.


            O filme conta a história da resistência russa a invasão teutônica em 1242, destacando tanto a liderança do príncipe Alexander como a união (força da coletividade como em A greve) dos camponeses claramente em um discurso de alerta para os russos e um aviso aos possíveis invasores mostrando a capacidade de resistência desse este povo.


            Claro que analisando em conjunto, A greve e Alexander Nevsky, bem como Encouraçado Potemkin e Outubro são filmes que se estabeleceram como marcos na história do cinema. Eisenstein, a partir da construção inovadora de planos, montagem e desenvolvimento narrativo, reverbera até hoje na sétima arte.
            Vou procurar na exposição dessa experiência não analisar cenas para não alongar em demasia o texto, quero apenas finalizar lembrando mais uma vez que o cinema é uma ferramenta de aprendizagem. Portanto, devemos buscar nos precursores dessa arte a fonte de inspiração que alimentará nossa paixão pelo cinema.   

Bons filmes!

Um comentário:

  1. A Greve e Alexander Nevsky são dois filmes impressionantes para a época em que foram produzidos. Eu gostei mais de A Greve por que é um show de metáforas cinematográficas e a todo tempo eu me perguntava como esse diretor conseguiu fazer um filme assim em 1924?

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