Muitas
pessoas não assistem a filmes “antigos” porque acham que em épocas mais remotas
as limitações técnicas impediam a realização de filmes atrativos (bem relativo
esse conceito é, diria Mestre Yoda) ou até mesmo compreensíveis. No entanto,
quem se aventura por esses mares cada vez menos navegados sabe que essa
percepção é não só equivocada como também anacrônica. Quem fazia um filme no
começo do século XX estava, na verdade, descortinando ao mundo novas
tecnologias e ao mesmo tempo, por serem pioneiros, estabelecendo a linguagem de
uma nova forma de arte, que em certa medida era ciência também. Dada a sua
complexidade o cinema era o resultado de uma evolução técnica no que se refere à
exposição em movimento de películas fotográficas e uma síntese de elementos de
outas formas de arte, estabelecendo ao longo do tempo uma gramática própria, um
amálgama que de se desenvolveu em torno da imagem de onde extraímos um
significado.
É
evidente que nós não podemos comparar aspectos de ordem técnica (resolução da
imagem, execução de efeitos especiais, qualidade de captação e mixagem de som)
entre filmes produzidos nas primeiras décadas da história do cinema com filmes
recentes, superproduções com orçamentos milionários. Entender as características,
o contexto social e, principalmente reconhecer as inovações, a própria
linguagem cinematográfica é condição sine
qua non para aproveitar a experiência de vermos esses filmes.
Em
2018 nos propomos a estudar filmes que sedimentaram as bases da cinematografia
mundial, e que cada um, a sua maneira e na sua época, exploraram o potencial
narrativo da sétima arte. De Eisenstein a Tarkovsky, de Fellini a Antonioni,
vamos percorrer ao longo desde ano que começa fascinantes trilhas cinematográficas guiados
por mestres que moldaram comportamentos e ajudaram a formar a mentalidade do
século XX.
Começamos
com a exibição de A greve de Serguei Eisenstein, belo exemplo de arte
engajada, o filme é um dos símbolos mais duradouros de uma obra que servia aos
propósitos da formação de uma consciência de classe, e em especial, do
despertar da massa para a sua potência transformadora, que, apesar de feito depois da revolução (o filme é de 1924) e direcionar a sua crítica ao ambiente
político do czarismo, o filme tinha potencial para despertar preocupação no
quadro da paranoia stalinista se tivesse sido lançado alguns anos mais tarde, já
que é uma metáfora da luta contra a injustiça e a opressão em qualquer situação
política.
Aliás, as construções
metafóricas são um verdadeiro desfile de referências visuais ao desprezo da
burguesia em relação ao proletariado urbano e aos camponeses. Esse ponto mostra
a importância do cinema enquanto catalisador dessas reflexões, posto que
somente em um filme o expectador pode ser levado a crítica dessas situações
perante uma reprodução do real a partir do poder da montagem de sequência imagéticas.
E
como a ideia é fazermos duas sessões por mês completamos a agenda com outra
obra seminal de Eisenstein, Alexandre Nevsky, que em 2018 completa 80 anos da
primeira exibição nos cinemas. Filme histórico que claramente
evoca o presente, esta película foi produzida no contexto da ameaça de uma
invasão germânica à União Soviética, coisa que acabou acontecendo com a quebra
do pacto Ribbentrop-Molotov, ou pacto germano-soviético como também é
conhecido.
O
filme conta a história da resistência russa a invasão teutônica em 1242,
destacando tanto a liderança do príncipe Alexander como a união (força da
coletividade como em A greve) dos camponeses claramente em um discurso de
alerta para os russos e um aviso aos possíveis invasores mostrando a capacidade de resistência desse este povo.
Claro
que analisando em conjunto, A greve e Alexander Nevsky, bem como Encouraçado
Potemkin e Outubro são filmes que se estabeleceram como marcos na história do
cinema. Eisenstein, a partir da construção inovadora de planos, montagem e
desenvolvimento narrativo, reverbera até hoje na sétima arte.
Vou
procurar na exposição dessa experiência não analisar cenas para não alongar em
demasia o texto, quero apenas finalizar lembrando mais uma vez que o cinema é
uma ferramenta de aprendizagem. Portanto, devemos buscar nos precursores dessa
arte a fonte de inspiração que alimentará nossa paixão pelo cinema.
Bons filmes!
A Greve e Alexander Nevsky são dois filmes impressionantes para a época em que foram produzidos. Eu gostei mais de A Greve por que é um show de metáforas cinematográficas e a todo tempo eu me perguntava como esse diretor conseguiu fazer um filme assim em 1924?
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